Nos Tempos da Serpentina

Posted by Ricardo Cazarino | Posted on quarta-feira, janeiro 30, 2008

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Por Ricardo Cazarino

“Ó abre alas que eu quero passar
Ó abre alas que eu quero passar
Eu sou da lira não posso negar
Eu sou da lira não posso negar”
(Ó abre alas - Chiquinha Gonzaga)


Numa época em que a sociedade brasileira era repleta de normas de conduta e o correto era não desrespeitar a elite dominante, uma jovem começava a se destacar pela sua arte e independência. Voltando as páginas, em meados de 1889, Chiquinha Gonzaga, se destacava como a primeira compositora da história da música popular brasileira. No papel repleto de cifras e marcações e ao toque suave do piano, “Ô Abre Alas” ganhava salões e chegava aos mais distantes ouvidos dos futuros foliões.

A composição teve seu auge com o surgimento nas tradicionais marchinhas carnavalescas na década de 20. Até então, o som do momento era regado pelas tradicionais jazz-bands e as melindrosas, mulheres modernas da época, que enfeitavam os salões e os bailes com seus vestidos mais curtos, elegantes e leves. Ousados para os velhos tempos. A dança mais vigorosa atraia os olhares dos homens mais recatados para as costas e as pernas levemente a mostra.

Influenciado pelas bandas de jazz e mesclado com as milenares marchas militares compassadas, começou a surgir uma nova melodia aos ouvidos e ao corpo. Com letras alegres e com uma boa dose de humor, em que o duplo sentido colocava em dúvida alguns trechos, as marchinhas dominaram as festas banhadas a chuvas de confetes, serpentina e brilho. Segundo o livro, Almanaque do Carnaval, do historiador André Diniz, “o reinado das marchinas durou nada menos do que 4 décadas, de 1920 a 1960, e diferente do frevo e do samba, a marchinha nasceu como ritmo exclusivo dos salões”

No compasso da época de ouro, outras vozes e marchinhas ficaram consagradas nos embalos de Noel Rosa, Braguinha, Ary Barroso e a inesquecível Carmen Miranda, entre outros. Os bailes aumentavam ano após ano. Ganhou as ruas e atraiu gerações. A brincadeira inocente de um povo, ficou marcada nas páginas de livros históricos e nas composições de poetas da música. Passado um século, Chiquinha Gonzaga se eterniza na alegria de um povo.

Quanto riso oh quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
Arlequim está chorando
Pelo amor da colombina
No meio da multidão
(Máscara Negra - Zé Keti, Pereira Mattos)

Quantos carnavais, quantas lembranças.
E que não se duvide desse tempo...

Lembranças da Folia
Cidade Maravilhosa (André Filho) – Aurora Miranda
Pierrô Apaixonado (Noel Rosa e Heitor dos Prazeres)
Touradas em Madri (João de Barro e Alberto Ribeiro)
Chiquita Bacana (João de Barro e Alberto Ribeiro) – Emilinha Borba
Taí (Joubert de Carvalho) – Carmen Miranda
A Jardineira (Benedito Lacerda e Humberto Porto)
O Teu Cabelo Não Nega (Irmãos Valença e Lamartine Babo) – Castro Barbosa
Yes, Nós Temos Bananas (João de Barro e Alberto Ribeiro)

Pátria Amada ?

Posted by Ricardo Cazarino | Posted on domingo, janeiro 27, 2008

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Por Ricardo Cazarino


“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas... De um povo heróico o brado retumbante,... E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,... Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
Se o penhor dessa igualdade... Conseguimos conquistar com braço forte,Em teu seio, ó Liberdade,... Desafia o nosso peito a própria morte! Ó Pátria amada,... Idolatrada,... Salve! Salve!
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido... De amor e de esperança à terra desce,... Se em teu formoso céu risonho e límpido... À imagem do Cruzeiro resplandece.
Gigante pela própria natureza,... És belo, és forte, impávido colosso,... E o teu futuro espelha essa grandeza.
Terra adorada... Entre outras mil,.. És tu, Brasil,... Ó Pátria amada... Dos filhos deste solo és mãe gentil... Pátria amada,Brasil ! ...”

Na típica virada do tempo da capital, o vento gelado chega junto com o cair na tarde. Na praça mal tratada pela cidade atrás do Fórum, algumas plantas tentam sobreviver em meio ao lixo despejado sem dó. Poucas pessoas passam pelo local. Quando passam, as pernas parecem correr para longe. Os olhares desconfiados buscam uma direção segura. Em meio à solidão, Brígido Sousa Lima, de 54 anos, se acomoda na beira de um canteiro. A cabeça abaixada entre as pernas forma uma barreira contra o vento e a poeira.

Com um rosto desconfiado mais com um ar de curiosidade, veste sandálias velhas presas por um barbante negro, uma calça social marrom desbotada com uma camisa de malha azul e cinza encoberta por uma jaqueta aberta escuro. O gorro preto da cabeça complementa a atual vestimenta. A pele negra com a barba feita e os olhos escuros não deixa que a idade seja percebida facilmente. Uma sacola velha de mercado é mantida entre os pés.

Há dias dorme, ou descansa um pouco como prefere dizer, em frente à galeria Pagé, bem no coração do consumo ilegal. “Daqui a pouco vou pra lá. Tem dias que arranjo um cobertor, mas quando não tem, fico sem mesmo. Mas aqui na rua a gente não pode dormir não. Tem “nego” que leva tudo, até matar os caras que tão dormindo”.

Pai de três filhos e casado, Brígido nasceu em Itabunas na Bahia onde morou até os 28 anos. Como a maioria dos moradores em situação de rua, não tinha um trabalho formal. “Quando a situação começou a ficar ruim e como estava desempregado, vim para São Paulo porque tinha a esperança de ter uma vida melhor, mas agora consigo no máximo de R$ 5,00 a R$ 10,00 por dia. Tem dias que ta fraco, hoje só consegui R$3,00.”

Sem contato com a família há 20 anos, não tem vontade de voltar pra casa sem as condições melhores que tanto buscava. Sem oportunidade de arranjar um emprego digno, vivia de trabalhos temporários. Hoje, apenas bicos. “Já fiz muita coisa nessa vida... martaleiro e vendedor de coco até a prefeitura da Marta Suplicy roubar minha barraca. Agora cato latinhas e papelão pelas ruas. Levo tudo nas costas mesmo. Não tenho carroça”. Com uma aparência mais calma deixa escapar o primeiro sorriso ao falar de seu principal inimigo, a fome: “já passei 3 dias sem comer, mas não morri, to vivo!”

Sem a companhia da garrafa com álcool e com plena consciência de sua situação o papo começa a ganhar intimidade ao mesmo tempo em que o vento seco insiste em atrapalhar a conversa. “Não tomo álcool, não fumo droga, maconha e nem como pimenta, nada disso.” Já descontraído, muda de assunto e deixa escapar seu maior sonho, de ser compositor e cantor. A voz rouca e com ritmo musical deixa o tempo passar ao som de seu samba de rua : “Olha o rapa, olha o rapa aí...O rapa ta levando todo o meu trabalho....minha carroça, meu papelão...olha o rapa aí...” A inocente letra revelou sua realidade crua e nua. Um protesto musical pela condição em que vive foi a melhor forma que encontrou para seu protesto particular. “Música é comigo mesmo, pode perguntar, o que você quer ouvir?”

O samba poderia durar a noite toda, era só chamar uns amigos, armar um churrasquinho e umas mulatas para pode estremecer a Praça da Sé. Poderia... Mas um detalhe chama a atenção. Em meio às melodias, Brígido exclama com orgulho: “eu sei o hino nacional, o hino da bandeira e todos os hinos nacionais. Aprendi quando fiz exército ainda nos meus 19 anos e nunca mais esqueci. Todos os brasileiros deveriam saber o hino de seu país. Tem muito engravatado que não conhece; uma vergonha!”. O hino nacional é cantado por completo, com as pausas e o fôlego na medida certa. Uma platéia poderia se formar a qualquer instante. “...terra adorada... Entre outras mil,... És tu, Brasil,... Ó Pátria amada!... Dos filhos deste solo és mãe gentil... Pátria amada,... Brasil ! . Pelotão sentido!”, o sorriso nos lábios e uma suava gargalha completava a tarde de solidão do morador de rua.

A imagem do senhor carente por uma boa conversa permite uma aproximação ainda maior. As mãos gastas pelo trabalho pesado retiram do bolso da blusa uma velha carteira robusta com papéis caindo pelas laterais. Em meio a eles um recente documento é passado de mão. Datado de 04 de agosto de 2006, o pequeno pedaço de papel esverdeado registra o atestado que o cidadão NÃO possui antecedentes criminais e nem passagem pela polícia. “Quando o cara tem crime nas costas, tem o dedão aqui (verso no papel), senão fica em branco. Eu não devo nada a justiça.”

Além das melodias com crítica a sociedade, Brígido confessa que não acompanha os principais acontecimentos nacionais porque não tem a oportunidade de assistir uma televisão e ler um jornal todo dia. No entanto, afirma que não deixa de exercer seu papel de cidadão: “Eu voto sabendo que esses políticos não vão fazer nada. É só na hora pra conseguir votos que ficam falando que vão fazer isso e aquilo. Mas voto assim mesmo. Vou votar pro Lula.”

Ao contrário de uma boa conversa jogada fora de botequim que vai até altas horas, o papo é encerrado com a chegada da noite. Ainda com a política na cabeça, arruma logo um samba para sonorizar a partida : “sou fã do Bezerra da Silva. Você conhece aquele música... Meu irmão se liga no que eu vou lhe dizer... Hoje ele pede seu voto amanhã manda... A polícia lhe prender... Hoje ele pede seu voto amanhã manda... A polícia lhe bater... Eu falei prá você, "viu"?... Nesse país que se divide... Em quem tem e quem não tem... Sempre o sacrifício cai no braço operário... Eu olho para um lado... Eu olho para o outro... Eu vejo desemprego... Vejo quem manda no jogo...”.

A Cara de São Paulo

Posted by Ricardo Cazarino | Posted on quinta-feira, janeiro 24, 2008

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Por Ricardo Cazarino

Na cinza e caótica cidade de São Paulo, uma onda enraizada em pleno centro velho, surge e ultrapassa as fronteiras dos arranha-céus, invade as avenidas e janelas e se expande no horizonte sem piedade. Diante dos olhos, é preciso paciência. As curvas delicadas e pesadas dão um ar de soberania. Considerado um marco da modernização paulistana nos anos 60, o edifício Copan representa um resumo da diversidade da cidade. Ele abriga cerca de 5 mil pessoas das mais variadas classes sociais, sexo, cor, raça e origem.

Ontem
Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer em 1951 e localizado no coração da cidade, o Copan é a abreviação do nome da Companhia Panmericana de Hotéis e Turismo. Inicialmente a obra seria um centro urbanístico do modelo do Rockfeller Center de Nova York, com apartamentos, salões, lojas, cinema, teatro e jardins.

A obra teve início no ano de 1952 e foi concluída apenas em 1966. Nos anos 70, o edifício passou por uma fase de degradação violenta, a mesma que provocou a degradação do centro histórico.

Há 40 anos no Copan, o síndico Affonso Celso Prazeres, chamado de “prefeito” pelos condôminos, luta desde 1993 para revitalizar e manter o local como um verdadeiro monumento faraônico.

Hoje
Desde 2001, o maior prédio residencial da América Latina, passa por reformas ousadas e caras. Uma que ainda não saiu do papel é a criação de um observatório na cobertura, com acesso por um elevador panorâmico, permitindo uma vista particular de São Paulo. As reformas do Copan é um fator fundamental para o centro esquecido da capital e devolverá a cidade os requintes de décadas passadas.

Curiosidade
O formato em onda que deu um glamour especial a cidade, não foi propositalmente, mas sim uma solução para a topografia local, que não permitia a construção em linha reta; Cerca de 3 toneladas de lixo são recolhidos por dia.

Copan na matemática:
1160 apartamentos, igreja, 1 fast-food chinês, 4 restaurantes, 1 lavanderia, 1 lanchonete, 10 relojoaria, 1 cafés, 1 vídeo locadora, 5 telefones públicos, 1 agência de turismo, 1 papelaria, 1 despachante, 300 vagas na garagem, 6 blocos residenciais.

Cárcere do tempo

Posted by Ricardo Cazarino | Posted on sábado, janeiro 19, 2008

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Os porões da ditadura militar revelam uma história apagada pelo País e o legado vivo de gerações

Texto e fotos: Ricardo Cazarino

Manhã de sábado de 2007. O tempo nublado com ventos gelados sobre uma fina garoa que cai em pleno centro de São Paulo, não impede de entrar em um dos mais estruturados e históricos edifícios do País. Por fora, grandes colunas com detalhes a cada dobra de parede. Por dentro, um silêncio assustador revela a herança deixada pelo tempo. As escadas, essas sim, levam aos antigos cárceres da ditadura militar.

Manhã de sábado de 1967. As belas estruturas do prédio e muito menos o clima podem ser notados. Não há tempo. Com os olhos vendados e com ematomas por todo corpo, os perseguidos pelo governo militar, eram arremessados e amontoados nos seis cubículos escuros dos porões do DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social).

Hoje, um local turístico. No passado, temido, negro. Mas algo ainda é capaz de unir tais contradições. Durante todas as décadas, o ranger das portas e o som frio das fechaduras encobertas pelas ferrugens, podem sem ouvidos com o mesmo arrepio na espinha. As grades estreitas e emaranhadas são as verdadeiras testemunhas oculares de uma história triste e vergonhosa.

História
O edifício não foi construído para abrigar presos políticos e práticas de tortura. Sua origem se encontra na evolução da cidade, na transição do século 19, para o início do 20. Mas exatamente em 1875, na conclusão da estrada de ferro Sorocabana, com 108 quilômetros de extensão, que ligava Sorocaba e São Paulo.

Para acomodar seus dirigentes e produtos vindos do interior começou a ser elaborado o plano de edificação de um armazém. Para a obra, o arquiteto oficial da cidade, Ramos de Azevedo foi escalado. Responsável por grandes obras como o Teatro Municipal, o Pátio do Colégio e o Palácio das Indústrias, suas estruturas misturavam as rudes plataformas metálicas aos tijolos avermelhados, visando resgatar os modelos europeus.

Apenas no ano de 1924, quando o armazém foi fechado e entregue aos cuidados do Estado, foi transferida e instalada a Delegacia de Ordem Política e Social (Dops). O órgão foi extinto no inicio da década de 80. Criado para combater movimentos sociais e políticos contrários ao governo, teve sua face mais marcante no período da ditadura militar (1964-1984). Nela, as celas se transformaram em verdadeiros locais de torturas e mortes. Muitos nomes que entraram, jamais saíram. Outros, buscam na memória a lembrança da liberdade roubada.

Hoje
As antigas celas do DOPS se encontram hoje no prédio da Estação Pinacoteca, bairro da Luz, próximo à estação do metrô, sobre responsabilidade da Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo. Totalmente reformadas, as celas pintadas de preto e iluminadas com pequenas luzes superiores, exibem pequenos quadros que registram o período militar. Manifestações populares, conflitos corpo a corpo, movimentos de artistas e mortes fazem parte da mostra.

Segundo o monitor do Memorial da Liberdade, Vinícius Camargo Sari, a média de visitas é de 25 pessoas por dia, em sua maioria estudantes e jovens. “Conhecer pessoalmente este registro histórico do País atrai mais jovens do que qualquer livro de história.”

Serviço : Estação Pinacoteca
Largo General Osório, 66 - Luz - São Paulo/SP
Fone: (11) 3337-0185
Funcionamento: De terça a domingo, das 10h00 às 17h30.
Ingressos: R$ 4 e R$ 2 (1/2 entrada). Grátis aos sábados.
Estudantes com carteirinha e idosos pagam meia entrada.
Crianças com até 11 anos não pagam.

Uma voz, eterna canção

Posted by Ricardo Cazarino | Posted on domingo, janeiro 13, 2008

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“Eu tinha tanto som na minha cabeça que, de algum jeito ou de outro, eu precisava colocar isso para fora”. Esta frase talvez resuma todo o conteúdo de uma das mais belas vozes do mundo musical. Suave, doce, meiga, insegura, forte e, ao mesmo tempo, com extrema técnica. Era assim que Elis Regina encantava platéias e ultrapassava fronteiras com suas canções. Para outros, simplesmente Elis.

Seu auge ocorreu em plena época da ditadura militar. Enquanto o País passava por graves agressões e severas censuras, Elis corria por fora. Apelidada de “pimentinha”, por Vinícius de Moraes, atingiu seu grande objetivo: cair na graça do público. Passou por diversos estilos musicais até atingir um novo formato para o mercado musical. Com seus gestos expansivos e sua voz única, nascia a MPB.

Em 1967, no primeiro festival de música brasileira, na TV Excelsior, Elis surpreendeu os cantores consagrados e levantou o público ao defender a canção “Arrastão”. Com 20 anos, sua voz começava a entrar na casa dos brasileiros. Convidada para apresentar o programa O Fino na Bossa, na TV Record, dividiu o palco com o cantor Jair Rodrigues.

Um grande sucesso foi o especial que gravou junto com o cantor e compositor Tom Jobim. Recentemente relançado pela gravadora Trama, que pertence a seu filho, João Marcelo, para homenagear os 60 anos de seu nascimento, hoje o CD é um dos mais vendidos. “Esse trabalho é parte do corpo, da paixão que tenho por minha mãe dentro da minha memória”, revelou recentemente o empresário no programa da rádio USP FM.

Dona de em repertório invejável por muitos compositores, suas canções percorreram palcos pelo mundo. Atrás da Porta, Casa no Campo, Fascinação e Madalena fazem parte dessa memória. Elis também lançou diversos cantores, como Milton Nascimento. “Quando conheci, não sabia seu nome todo. Disse que se chamava Milton Nascimento. Isso me basta”, contava Elis.

Ninguém cantou e representou tão bem a música nacional como a enigmática Elis. Essa voz se calou. Sua musicalidade e sua alma tornaram-se um único ser, que ultrapassou o especial para ser universal., “... assim falava a canção...”.

Brasil de Todos os Povos

Posted by Ricardo Cazarino | Posted on sexta-feira, janeiro 11, 2008

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Parte I

Por Laís Sansoni e Ricardo Cazarino

Com o passar do tempo, o Brasil construiu uma das mais belas riquezas de uma nação, sua língua e cultura

Uma forma de se identificar uma nação é através da língua. Porém, com o passar dos tempos, as mudanças que as línguas sofreram possibilitaram os países a criarem suas próprias identidades culturais. Assim acontece com a língua portuguesa, a sétima mais falada no mundo, mas com uma independência entre os países que a utilizam, como Angola, Moçambique, Portugal e Brasil.

Apesar de ter sua raiz em Portugal, as mudanças ocorreram conforme as colonizações, invasões, necessidades e interesses dos países, que ganharam e perderam sotaques lingüísticos. Diferentemente de outras nações que foram colônias portuguesas até bem pouco tempo atrás, onde sofreram intensas opressões e o português era ensinado nas escolas com todas as fonéticas e entonações.

Já o Brasil, com os escravos de origens africanas, índios nativos, invasores estrangeiros e diversos grupos de imigrantes, teve sua formação cultural fundada em inúmeros povos, todos com tradições e costumes particulares. A população brasileira teve que aprender a lidar com essa mistura e a improvisar. A cultura do país se tornou rica ao mesmo tempo diversificada.

Segundo Maria Aparecida da Silva, pedagoga e formada em lingüística comparada pela Universidade de Lisboa, é dessa forma que surgiu o “jeitinho brasileiro”. “Não tínhamos quem nós ensinasse a entender essas diversidades lingüísticas, tivemos que aprender a nos virar e improvisar”, diz Maria Aparecida.

Outro fator para nos distanciar da tradicional língua portuguesa é a extensão territorial que o país possui. De norte a sul, é possível encontrar em cada região características exclusivas, porém de entendimento geral em todo território.
Por esse motivo, Maria Aparecida acredita que o Brasil já não fala mais o português, mas sim o “brasileiro”, uma forma de unir a riqueza que o país construiu. No entanto, o “brasileiro” ainda é contestado por algumas linhas teóricas, que alegam que devido à mesma origem, não é possível atribuir um nome específico.

Brasil de Todos os Povos

Posted by Ricardo Cazarino | Posted on sexta-feira, janeiro 11, 2008

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Parte II


Consciência lingüística

Um problema comum a ser analisado é a falta de valorização da língua pela própria população, que se envergonha de sua origem, com sátiras e piadas sobre sotaques e modos de falar. O preconceito lingüístico é uma forma de denegrir a cultura, já a língua de prestígio é considerada a correta. Um exemplo disso se encontra nas richas entre paulistas e cariocas, e os nordestinos, que são desvalorizados e inferiorizados pela cultura sulista.

Essa degradação da língua ocorre à medida que a região centro-sul do país é vista como a principal do país. Segundo Maria Aparecida, o português de São Luís do Maranhão é o que mais se assemelha ao original, contrariando a língua de prestígio.

Ao contrário do que ocorre no Brasil, os portugueses se vangloriam de sua língua e apreciam cada vez mais a cultura brasileira, que está em plena ascensão no país europeu. Através da televisão, as músicas, os artistas e as novelas são vistas como uma forma de crescimento e conhecimento. Por ser um país pequeno comparado ao Brasil, não há mais grandes novidades e lançamentos, um motivo a mais para que “as nossas notícias façam parte da vida deles”, afirma Maria Aparecida.

Uma curiosidade entre os países é o significado das palavras, em que muitas vezes tem a mesma pronúncia mais significados diferentes. Para Maria Aparecida, essa mudança radical ocorreu de acordo com a situação e com o contexto : “Às vezes determinada palavras foi utilizada há cem anos com um significado e hoje, pelo desenvolvimento, exige uma outro sentido”.