Com que roupa?

Posted by Ricardo Cazarino | Posted on sábado, julho 25, 2009

3

Outra noite fria e gelada de sexta-feira em São Paulo. A chuva fraca que começou pela manhã e atravessou toda tarde parecia não querer parar. Mas isso não impediu a presença de centenas de pessoas, entre jovens e adultos, de lotarem a plateia do Sesc Vila Mariana. Todos acomodados. Luzes apagadas. No palco, as cortinas negras se abrem e levantam uma suave fumaça seca. Ganhões de cores. Três músicos, piano, bateria e baixo, todos de preto, fazem os primeiros acordes. Para completar todo cenário, com mais de 60 anos de carreira, Elza Soares.

Em cima de um salto exibidamente alto, roupa negra colada ao corpo e cabelos estravagantes no mais estilo Elza Soares de ser, ela fez um passeio pelo jazz, blues, samba e música brasileira. Escandalosa, ousada e abusada.

No show, Elza relembrou momentos marcantes de sua carreira como sua primeira aparição em um programa de calouro no qual tirou nota máxima. Usava um vestido antigo da mãe grampeado por alfinites, duas tranças no cabelo e uma sandália “mamãe tô na merda”. Foi dessa maneira que ela foi questionada pelo dono do palco, Ary Barroso: “De que planeta você veio?”. A mesma voz rouca e firme de hoje respondeu: “Do planeta da fome”.

A velha radiola do pai também foi lembrada. Era nela que a menina moça escutava escondida as mais belas vozes do rádio. Elza fez um passeio pelo cenário musical nacional e prestou homenagem aos consagrados compositores como Noel Rosa em “Com que roupa” e “Feitiço da Vila”, Carlos Lyra em “Lobo Bobo”, Dolores Duram em “Pano Legal”, Johnny Alf em “Eu e a brisa”, entre outros.

Por quase duas horas ela demostrou que está em plena forma física e vocal. “Estou em uma fase linda da minha vida. Aprendo a cada ano”, revela à plateia. Aplausos, sempre intensos e contínuos, interagiram a todo momento com o show. Elza Soares dispensa apresentações.

Gay Talese no Brasil

Posted by Ricardo Cazarino | Posted on quarta-feira, julho 08, 2009

9

É atrás dessa frase cravada em um pequeno cartaz no centro no teatro do Museu de Arte de São Paulo, iluminado por canhões de luz, que centenas de pessoas lotaram as confortáveis poltronas de ponta a ponta. Alguns se expandiam para os espaços laterias e por lá ficavam. O amplo teatro no subterrâneo une equipamentos modernos como os aparelhos de tradução simultânea as rústicas paredes da construção. Mesmo com as portas já fechadas, uma fila ainda se contorcia e dava voltas no vão livre do Masp. Todos na esperança de ouvir algumas palavras do consagrado repórter do The New York Times, Gay Talese.

Para profissionais de comunicação, Gay Talese dispensa apresentações. Considerado a pai do “new journalism”, que utiliza técnicas descritivas do romance com a realismo das personagens, deu uma verdadeira aula de jornalismo para alunos, profissionais e amantes da literatura.

Aos 77 anos, entrou no palco ao som de palmas contínuas. Com andar calmo, exibiu seu terno alinhado, sapato bicolor e um olhar admirado diante da plateia. Sorriu. Repousou o chapéu sobre uma pequena bancada ao centro e prosseguiu o restante da noite com as pernas cruzadas e mãos levamente gesticulantes. Silêncio total. Olhos e ouvidos atentos. A palavra é dele. Voz doce, firme e precisa.

Com mais de 50 anos de carreira, fez um passeio por seus trabalhos e relembrou a primeira matéria que escreveu nas modernas máquinas de escrever da redação do NY Times na década de 30. Aos 19 anos, o então entusiasmado “faz tudo” do jornal não imaginava que sua curiosidade e percepção lhe trariam tantas glórias. Seu primeiro personagem: um letrista do jornal que tinha por função escrever as notas que passavam no letreiro luminoso ao lado externo do prédio. Para Gay Talese, o simples trabalho era a oportunidade perfeita. Mergulhou por algumas horas na vida do trabalhador, perguntou as curiosidades, fatos marcantes e começou assim a traçar o perfil do entrevistado. Pediu emprestado uma máquina, sentou e redigiu. Tal folha caiu nas mãos do editor que publicou a matéria. Ainda sem assinatura. Mas estava impressa.

Das batidas fortes e barulhentas das máquinas que mais pareciam caixas registradoras, aos teclados delicados de um computador, o estilo de Gay Talese não se perdeu, pelo contrário, ganhou mais características e força. Ganhou o respeito e admiração. “Nos meus trabalhos, sempre começo algo com a descrição de algum lugar, de alguma pessoa. Procuro transformar palavras em imagem. Como se o leitor estivesse vivendo o mesmo fato a medida que eu os vejo”, declara.

Em diversos pontos da palestra relembrou a essencia de um jornalista: revelar a verdade. “O bom jornalismo é feito de verdade tanto quanto se pode chegar perto dela”. Outra base importante para conseguir uma boa história está na educação, na cortesia do profissional, na capacidade dele em conquistar a confiança do entrevistado para que possa ir fundo, cercar os detalhes e redigir com entusiasmo.

Gay Talese tem um olhar diferente. Uma curiosidade, como gosta de dizer. Ao cobrir uma luta de boxe, preferiu desvendar a vida do juiz. Ao reportar uma final de jogo de baisebol, optou contar sobre os trabalhadores que cuidadam da grama. Até os pedintes de rua e uma enorme fila para comprar calças jeans não escapam ao seu olhar. O velho bloquinho e uma caneta são seus companheiros.

O jornalista ainda fez questão de dizer que sua visita ao Brasil, a convite da FLIP (Festa Literária de Paraty/RJ), que aconteceu na última semana, foi supreendente. Ficou emocionado ao presenciar uma enorme quantidade de pessoas em uma feira exclusiva de obras impressas. “Eventos como esse, com essa proporção, não acontecem em Nova York e nem em Washigton. Em nenhum outro lugar”. Cerca de duas horas depois, todos continuam atentos. Parecem não piscar. Ficariam por mais quantas horas fossem necessárias. É preciso encerrar. Mais aplausos.

...então RODA BRASIL!

Posted by Ricardo Cazarino | Posted on sábado, julho 04, 2009

1

Noite fria em São Paulo. O vento gelado que recorta as ruas traz de longe um aroma quente de sabor temperado e barulhento. A música alegre ultrapassa a lona do Circo Roda Brasil, instalado no Memorial da América Latina. Luzes e cores estão por toda parte. No centro do picadeiro a platéria é convidada e mergulhar no Oceano e viajar pelo encanto do espetáculo nas águas mais profundas que jorram magia e diversão.

Oceano é o nome do novo espetáculo do circo intinerante que percorre diversas cidades brasileiras. O grupo, que tem parceria com Parlapatões e Pia Fraus, une a arte teatral com os tradicionais números circenses. Crianças, jovens e adultos compartilham por alguns momentos da mesma liberdade.

O mergulho pelas curiosidades da vida marinha começa com a imaginação de uma criança que brinca em uma banheira. Atrás de seu patinho de borracha ela viaja entre os seres mais medonhos e iluminados, pelo voo dos acrobatas, pela dança com cordas, pela força do equilibrismo e pelo balé aquático. Durante a exibição, pitadas de palhaçadas não faltam. Das mais tradicionais aos improvisos, os aplausos tomam conta do espaço. Uma discreta homenagem ao Rei do Pop com sapatões, calça colorida e maquiagem no rosto chama a atenção. Mais aplausos.

Uma novidade do espetáculo são as rampas de patinição onde são exibidas apresentações radicais. Bonecos infláveis, projeções e efeitos especiais se somam aos artistas que se revezam no palco. A trilha sonora exibida ao vivo traz ritmo e intensidade ao espetáculo. Oceano leva cada espectador a deixar de lado a imensidão da cidade e mergulhar na arte do riso.