Lucas Prado - Velocidade e Superação
Posted by Ricardo Cazarino | Posted on quinta-feira, novembro 17, 2011
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As pistas de atletismo não estavam nos planos do então menino Lucas Prado, que nasceu em Poxeréu, e creceu em Rondonópolis no Mato Grosso. Sua infância foi como a de qualquer outro menino de sua idade. Olhos bem vivos. Muito brincalhão e arteiro. O jogo de bola com os amigos, correr atrás dos galos do tio e as brincadeiras mais divertidas para qualquer criança da sua idade eram tradições.
Na juventude, antes mesmo dos 15 anos já trabalhava como mecânico. Com 16 anos entrou no Banco do Brasil como auxiliar administrativo através do Projeto Menor Aprendiz. “Meu sonho era me formar engenheiro mecânico e tinha futuro no banco seguindo carreira, talvez de gerente geral.”
O trabalho se mantinha em crescente progresso até 20 de setembro de 2003 quando um deslocamento de retina começou a transformar sua vida. Essa data ficou registrada em sua memória. Nesse dia Lucas teve o primeiro diagnóstico médico: coriorretinite, uma inflamação no fundo do olho.
Começava assim uma árdua rotina de idas e voltas ao consultório médico. Ao todo seis cirurgias tentaram interromper o progresso da doença. Dos 17 para 18 anos, sem mais chances de cura, a luz dos seus olhos se apagaram de forma definitiva. “Os primeiros dias não foram tão difíceis porque o médico disse que eu votaria a enxergar, então estava um pouco tranquilo. Mas na última cirurgia, quando o médico falou que eu ficaria cego definitivamente, veio o desespero.”
A transformação na vida de Lucas foi rápida e dolorosa, assim como para toda a família. A primeira reação foi não aceitar tal situação e se revoltar com as tarefas mais simples que ele fazia sem problema algum antes. A cegueira lhe tirou não só a visão mas também a esperança na vida, chegando ao ponto de desistir de tudo e pensar no pior. “Pensei em morrer várias vezes”, revela Lucas ao lembrar da época.
Passado algum tempo Lucas conheceu um deficiente visual que já treinava futebol especial para cegos. Sem nada a perder, Lucas foi conhecer o esporte, começou a treinar e até viajou para Cuiabá para se aperfeiçoar no futebol para cegos. Mas não teve muito sucesso. Em 2006, com a ajuda da atleta Terezinha Guilhermina, que tem o título de cega mais rápida nos 100 e nos 400 metros, conheceu o atletismo e começou a mudar sua própria história. As pistas de treino passaram a ser sua casa e as vitórias uma adorável consequência de seu empenho. Hoje ele treina em Joinville, em Santa Catarina, e se dedica de 6 a 7 horas por dia com muito suor.
De bom humor com a vida Lucas revela: “Aceitar ser cego é ver o mundo mais bonito do que eu enchergava antes. Hoje vejo o mundo e faço ele do meu jeito! Construo ele do jeito que eu quero, igual no meu sonho! A vida é dura, mas se a gente ver por outro lado, e muito melhor do que ficar reclamando. Dificuldades todos nós temos, basta a gente saber como lidar com ela, erguer a cabeça, olhar para frente e colocar um objetivo nas nossas vidas: ser feliz custe o que custar.”
*O texto acima é parte integrante da matéria especial "Garotos Superpoderosos", (2008) da qual tive a honra de escrever para a Revista OCAS - Saindo das Ruas. A revista OCAS é mantida pela Organização Civil de Ação Social - Ocas, a qual elabora um projeto social de reintegração de pessoas em situação de risco. A revista é vendida nas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro, onde dos R$ 3,00, do preço do exemplar, R$ 2,00 vão para o vendedor. Na revista, todos os profissionais envolvidos se dedicam de forma voluntária. Contato: ocas@ocas.org.br