Passo a Passo

Posted by Ricardo Cazarino | Posted on domingo, maio 31, 2009

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Das noites recheadas de serenatas junto com o grupo Trovadores Urbanos ao trabalho solo, Bruna Caram busca seu espaço dentro da MPB

Dizem que talento se nasce com ele ou se constrói ao longo da vida. No caso da cantora Bruna Caram, as duas opções são válidas. Antes mesmo de nascer seu destino estava traçado. Seu bisavô, no auge dos 98 anos cantarolava e batia palmas explicando que a música era uma das coisas maravilhosas da vida. Sua avó, Maria Piedade, era cantora de rádio nos anos 50 e seu avô, Jamil, violinista, sempre promoveu rodas de choro. Bruna Caram, portanto, cresceu e aprendeu a magia da arte musical nos saraus familiares.

Seu primeiro trabalho solo está no cd “Essa Menina”, lançado em 2006 pela Dabliú Discos. Todas as composições são de Otávio Toledo em parceria com o letrista Costa Netto. Fã de Elis Regina, Ella Fitzgerald, Edith Piaf, Camille e Maria Bethânia, ela mostra com talento e sensibilidade suas interpretações e o porquê é considerada uma das jovens revelações da MPB. “Esse trabalho me surpreendeu, vem me surpreendendo diariamente através de mensagens, e-mails e presença nos shows. Não esperava que me abrissem o espaço que abriram e fico emocionada e "desafiada" a fazer cada vez melhor,” revela Bruna Caram. Tão logo lançou “Essa Menina”, a música “Palavras do Coração” despontou entre as mais tocadas nas rádios especializadas em MPB. No Japão, onde seu cd saiu no ano passado pela JVC, a faixa título “Essa Menina” ficou entre as 50 músicas mais tocadas da rádio J-Wave, a maior daquele país.

Foi aos oito anos que a cantora começou a aprender piano e aos nove já era uma das cantoras do Trovadores Mirins, versão infantil do conceituado grupo paulistano Trovadores Urbanos. Na juventude, por cerca de quatro anos, Bruna Caram integrou o próprio Trovadores Urbanos, no qual aprendeu, além da qualidade vocal, a ter jogo de cintura para enfrentar as mais variadas situações nas serenatas que realizava. “Numa serenata, por mais que tudo dê errado, é preciso fazer com que dê certo. Aprendi a não sentir vergonha, a me conectar com os músicos, a me ligar profundamente com as pessoas pelo olhar. Aprendi inclusive a decorar músicas rapidamente, comecei a ter noções de voz e treinei mais a afinação”, diz a cantora. “Além disso, sou fã dos Trovadores, acho um trabalho excepcional e emocionante, e meu sonho é ganhar uma serenata (risos!)”.

Com cabeça no lugar, Bruna Caram busca seu espaço passo a passo. Das influências, preserva as mais puras lembranças do consagrado compositor e cantor Dorival Caymmi. “Dorival Caymmi... nem posso falar nele, senão choro. Meu avô era o maior fã dele, quase todo dia cantava ‘Maracangalha’ e ‘Fiz Uma Viagem’, e a música ‘João Valentão’ era quase que seu tema de vida, até hoje não escuto mais essa música porque me emociona...”, conta Bruna. “Tem uma que acredito ser do Caymmi, que cantarolei uns trilhões de vezes outro dia, diz: ‘Todo mundo no mundo tem amor, tem seu bem... Pra esse canto do mundo, só o meu que não vem...’. Tão simples e tão lindo isso! Caymmi é um rei.”

Planos para o futuro: “Cantar até não poder!”. Com profissionalismo e dedicação Bruna Caram aos poucos vai conquistando seu espaço dentro do cenário musical, cada dia mais concorrido. “É preciso muita garra e muito jogo de cintura para lidar com isso, mas também a gente não precisa pirar. Tenho muitos amigos que são artistas jovens hoje no Brasil, muitas das "novas cantoras da MPB" inclusive, e a dificuldade não nos afasta por sermos "concorrência". É preciso que cada um procure seu caminho, fazer seu trabalho, e que ele seja autêntico. Acho possível fazer uma música de qualidade no Brasil hoje que seja de fato popular, e busco isso no meu trabalho. Acho possível reencontrarmos nosso espaço. Pode até ser esperança inocente minha, mas, somos jovens, melhor acharmos que é possível e termos essa esperança quase insana...”, finaliza a cantora.

Nota: Pré-lançamento do novo cd : FERIADO PESSOAL
10 de Junho
Teatro das Artes, Shopping Eldorado
Tel: 4003-2330
Obs: Matéria publicada na revista Ocas/dez08

Memórias Preservadas

Posted by Ricardo Cazarino | Posted on domingo, maio 10, 2009

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Anônimas ou não, relatos pessoais se tornam eternas histórias que não são contadas em livros


“Meu nome é Lourdes, gosto de me chamar Lourdes Alves porque me faz lembrar meu pai, é o sobrenome dele. Sou paulistana, tenho 52 anos e trabalho com redes sociais. A minha missão na Terra, se posso dizer que tenho uma missão na Terra, diria que é de fazer um trabalho de educação social, que possa contribuir para outras pessoas…”.Sentada em uma confortável poltrona em uma sala adapatada para gravações, Lourdes registrou esse depoimento em 2007 no Museu da Pessoa. Hoje, o relato ganha vida a cada novo clic no acervo do museu.

Assim como Lourdes, mais de 11 mil pessoas fazem parte desse arquivo que cresce a cada dia. Alguns são personalidades mas a grande maioria é anônima. O Museu da Pessoa, localizado em Pinheiros, São Paulo, nasceu em 1991 com a intenção de valorizar as histórias reais, sem distinção e sem preconceito. Para isso, são gravados depoimentos que se acumulam nas prateleiras do museu.

Para Cláudia Fonseca, responsável pelo Programa de Memória Institucional do museu, o espaço representa a possibilidade de pessoas, das mais variadas atividades, tomarem contato com relatos de seus semelhantes. “É por meio deles, que esperamos criar uma consciência de respeito e provocar novas reflexões sobre a história.”

A função do museu vai além de gravar e guardar os relatos. Ele provoca emoções. Faz cada entrevistado sentir-se único. “Tive momentos de muita emoção, de surpresa com as lembranças suscitadas”, revela Lourdes.

As diferentes narrativas, de diferentes pessoas, unem épocas e criam um fio condutor. São visões da infância, de locais, de distantes cidades. Há relatos de políticos, educadores, esportistas e famílias. Um material rico que pode proporcionar inúmeras análises, interligações e construções.

Ou bem como resume Lourdes: “Vivemos de forma acelerada. As experiências emocionais não tem muito tempo de serem observadas, percebidas e sentidas. Isso também acontece com a memória. Boas e más lembranças ficam lá no subsolo, escondidas, empoeiradas, quase mortas.”