DESABAFO

Posted by Ricardo Cazarino | Posted on domingo, junho 21, 2009

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Por Yara Verônica Ferreira

Entrei na faculdade de jornalismo já na maturidade. Se eu acreditasse mesmo que um jornalista hoje pudesse ser jornalista sem dimploma, não teria feito esse curso.

Vamos aos itens que vejo importantes abordarmos:

- sobre política e economia: realmente um sociólogo, uma pessoa formada em política e relações internacinais, um economista ou outros especialistas, talvez possam escrever melhor que nós jornalistas sobre o tema, mas a minha experiência com alguns profissionais dessa área e até mesmo de leitura de artigos escritos por essas pessoas, demonstrou que nem todos sabem escrever numa linguagem entendível por todos, porque estão presos ao "modus academics". Linguajar acadêmico muitas vezes confunde o leitor, que não terá um tradutor ao seu lado para compreender o que leu;

- sobre medicina, então, digo o mesmo. Não adianta dizer que a pessoa tem “ascaris lumbricoides”, tem que se explicar o que isso causa no organismo, formas de transmissão etc, e, nem sempre o médico consegue passar aos pacientes tudo o que ele deveria saber, quem dirá aos leitores. Portanto, pergunto: que médico está apto para responder a todas as questões que os pacientes e leitores desejam saber, se não lhes fizerem as perguntas que não calam em nossas bocas de jornalistas?

- para esses casos citados, acho que podem sim escrever sobre o tema, mas não como jornalistas, como articulistas talvez, mas volto a lembrar que ainda assim, muitos leitores precisam de tradutores.- não levando em consideração temas específicos das áreas dos outros, como citei acima, mas pensando em rádio e TV, a pergunta é: algum de nós chegou na faculdade pronto para enfrentar microfones e câmaras? Aprendemos sozinhos a fazer tudo? Os professores realmente não nos serviram de nada? Entonação de voz, postura perante as câmeras, formas de se escrever notícias para rádio e tv, que é bem diferente do jornalismo escrito para leitura em jornais, revistas e sites.

- pensando no passado bem distante, dizem que muitos jornalistas aprenderam com outros jornalistas, conheci o Zé Alencar(já falecido) que viveu essa experiência, mas ele mesmo chegou a me dizer que hoje as redações vivem outros tempos, ninguém tem tempo de ensinar ninguém. Vejam as vagas por aí, há anúncios que pedem experiência anterior até para estagiário, então como podem achar que é só querer ser jornalista, bater lá na porta das redações, TVs, rádios e dizer quero ser jornalista basta?

- Vi muitos colegas de faculdade e até mesmo já formados com dificuldades para criar uma pauta, para escolher um tema para reportar, portanto, se fosse fácil ser jornalista, ninguémm teria esse tipo de dificuldade;

- via amigas e amigos passarem dificuldades em arrumar emprego na área por não terem experiência na área de jornalismo e, se nem tendo curso de jornalismo, encaixar-se na área está fácil, quem diria sem curso.

- duvido que as empresas contratarão alguém que não tenha curso de jornalismo e nenhuma experiência na área.- até para arrumar um simples freela eles pedem experiência em alguma coisa!!!! Cadê o povo que achou que não tem que ter diploma, nem aprender nada para ser jornalista? Será que eles vivem mesmo na mesma terra que nós? Será que souberam avaliar todos os prós e contras?

- Li no Comunique-se que o Deputado Miro Teixeira o PDT do RJ já está se movimentando para criar um projeto de lei para regulamentar nosso diplominha, mas na verdade, acho que a movimentação deveria ser outra dos deputados, deveriam era lutar para que revogasse essa lei insana da queda do diploma.Cada um de nós pode refletir e ver o que mais podemos fazer para nos defender, já que temos um sindicato e um órgão de classe que são fracos o suficiente para deixar isso acontecer. Queria ver se eles tentassem fazer isso com a OAB!

Vamos fazer um movimento forte, mas tem que ser em todos os meios de comunicação, só passeata não resolve.Todos nós poderíamos escrever para todos os deputados e perguntar se o governo vai pagar tudo que gastamos para nos formar e se eles realmente entendem a importância de um cursos de jornalismo, que pelo que eu saiba, foi criado justamente devido a mudança dos tempos e a necessidade de se ter profissionais de gabarito no mercado.Quem topa fazer manifesto aos nosso governantes, órgão sindicais, órgãos que se dizem protetores da imprensa?

Entre pranchas e lençóis

Posted by Ricardo Cazarino | Posted on segunda-feira, junho 15, 2009

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Filme gay quebra modelos tradicionais e leva um novo sentimento para as telas


Foi em um cenário com belas praias, corpos esculpidos e pôr do sol radiante que o estreante diretor Jonah Markowitz apresentou o longa De Repente, Califórnia (Shelter) com um novo olhar no submundo masculino do surf e do skate. Ele retira as cenas comuns, tão repetidas em filmes praianos, as paixões repentinas e vai mais a fundo. Provoca arrepios aos desavisados. Trabalha de forma sútil a descoberta de um sentimento guardado, a compaixão e a paixão entre dois jovens amigos.

O surfista Zach, interpretado por Trevor Wright, é um jovem que sonha em entrar na escola de artes, mas deixa esse ideal de lado para se dedicar à irmã Jeanne (Tina Holmes) e ao sobrinho de 5 anos Coldy (Jackson Wurth). Morando em uma simples casa e trabalhando duro em uma lanchonete, Zach começa a mudar sua vida quando reencontra seu amigo de infância Shaun (Brad Rowe), agora escritor e bem de vida.

Ao enfrentar os próprios sentimentos, Zach descobre em Shaun seu ponto de apoio, um refúgio para a vida e questionamentos. Ambos se apaixonam e vivem juntos momentos únicos de desconbertas e desafios. O jovem surfista se vê responsável pelo sobrinho, uma vez que a irmã não tem condições estruturais e psicológicas de cuidar do menino, até abandoná-lo por uma emprego melhor.

De Repente, Califórnia aborda com respeito e simplicidade o envolvimento entre dois homens. A história entra nos cinemas sem ser piegas. Cenas musicais com belas imagens se aproximam dos vídeosclipe. O roteiro sem grandes impactos, torna a trama linear, ao mesmo tempo em que cutuca questões polêmicas na sociedade: a união homossexual e a criação de um menino por um casal do mesmo sexo.

O filme desconstrói tradicionais modelos de sociedade e família como pai, mãe e filhos, mostra a importância em acreditar nos sonhos, nos sentimentos verdadeiros e na liberdade de escolha. Ele não tem como objetivo levantar bandeiras e julgar ideias de comportamentos e pensamentos. Quem espera cenas quentes não vai encontrar. É uma história de amor como outra qualquer. A ousadia do diretor está na troca de olhar e no enlace de dois corpos masculinos.

Essa rua tem saída

Posted by Ricardo Cazarino | Posted on quinta-feira, junho 11, 2009

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Trabalhos artísticos de pessoas em situação de rua ganham
vida e derrubam preconceitos


O que é arte para você? Desde os primórdios a arte acompanha o homem em sua evolução. Em todas as épocas, ela capta percepções, emoções, ideias, sentimentos e se tornam um espelho do mundo no qual vivemos. Ela está em museus, galerias ou nas ruas. Tem o poder de transformar e unir. No mês passado, a Pinacoteca do Estado de São Paulo mostrou a essência da arte na exposição “Convivência”, que reuniu trabalhos de 30 pessoas em situação de rua, frequentadores de duas casas de convivência do centro da cidade: a Casa de Oração do Povo da Rua e a Casa Porto Seguro.

No exuberante prédio da Pinacoteca, o museu mais antigo do país, construído em 1905, com seus tijolos à mostra carregados de cultura que se espalha pelas galerias e salas, entre o rústico e o moderno, os trabalhos expostos ficaram lado a lado às obras de grandes artistas nacionais e internacionais. Os 140 trabalhos, entre desenhos, colagens, gravuras, técnicas gráficas e xilogravuras, foram realizados durante as oficinas semanais de arte promovidas pelo Programa de Inclusão Sociocultural (PISC) do Núcleo de Ação Educativa do museu em parceria com as casas de convivência, além de visitas educativas regulares ao museu. Nesse período foram realizados cerca de 50 encontros com cada grupo.

“Para nós a mostra representa uma grande satisfação e uma conquista, além de ser a primeira exposição educativa que fazemos, demonstra também um desejo da instituição de se abrir e trabalhar com grupos menos favorecidos, reforçando seu caráter público”, relata Gabriela Aidar, coordenadora do projeto.

A mostra recebeu o título de “Convivência” com o objetivo de questionar os muros invisíveis da sociedade, criar vínculos de identidade, autopercepção e autoafirmação, além de aproximar o museu a essas pessoas com suas particularidades e dificuldades. Segundo Gabriela, a exposição mostrou que os museus podem e devem estar abertos a toda a sociedade.

Foi na Oficina Escola de Arte e Luz da Rua, localizada algumas quadras da Pinacoteca, que Vera Regina Corrêa aprendeu a trabalhar com madeira, papel e tinta. “Jamais imaginava que da madeira pudesse sair uma flor tão linda”. Aos 59 anos, com um rosto marcado e de sorriso fácil, Vera passou 15 anos pelas ruas da cidade. Ao entrar pela primeira vez na Pinacoteca para conhecer o local onde as obras ficariam expostas ficou maravilhada com a grandiosidade do espaço. “Nunca tinha entrado. Nem passado pela porta da frente. É uma maravilha. Acho que esse trabalho mostra que as pessoas mais humildes também têm muitas coisas para ensinar.”

A cada visitante um olhar misterioso e surpreso paira sobre as obras. Devidamente enquadradas com molduras e vidros, elas ganham novos horizontes e provocam uma mudança no pensamento. Dispostos pelas paredes, as luzes mostram um a um em todos seus detalhes. As assinaturas traçadas a mão apresentam o autor e fazem renascer uma identidade esquecida pelo tempo.

Vicente Augusto e Sandra Maria Rodrigues também tiveram seus trabalhos expostos. “Foi muito importante ver os trabalhos na Pinacoteca. Isso mostra que podemos quebrar barreiras. Foi uma nova oportunidade, um desenvolvimento de vida”, afirma Vicente. Com tantas dificuldades que já passou pela vida, Sandra se orgulha em ter aprendido a realizar os trabalhos artísticos. “Se não fosse a oficina, nunca teria condições que fazer o que fiz. Foi uma ótima experiência”.

“Essa rua tem saída” são os dizeres da faixa de entrada na Oficina das Artes. A frase reflete toda ação de ressocialização que os trabalhos alcançam. Revela como a arte provoca mudanças na sociedade, como dar voz aos produtores e uma transformação na mente e no coração de cada novo artista que já teve a rua como companheira. Cabe aqui um lema espalhado pelo grupo teatral de rua, o “Farândula Troupe”: “a arte não muda o mundo. A arte muda o homem. O homem muda o mundo.”