
É atrás dessa frase cravada em um pequeno cartaz no centro no teatro do Museu de Arte de São Paulo, iluminado por canhões de luz, que centenas de pessoas lotaram as confortáveis poltronas de ponta a ponta. Alguns se expandiam para os espaços laterias e por lá ficavam. O amplo teatro no subterrâneo une equipamentos modernos como os aparelhos de tradução simultânea as rústicas paredes da construção. Mesmo com as portas já fechadas, uma fila ainda se contorcia e dava voltas no vão livre do Masp. Todos na esperança de ouvir algumas palavras do consagrado repórter do The New York Times, Gay Talese.
Para profissionais de comunicação, Gay Talese dispensa apresentações. Considerado a pai do “new journalism”, que utiliza técnicas descritivas do romance com a realismo das personagens, deu uma verdadeira aula de jornalismo para alunos, profissionais e amantes da literatura.
Aos 77 anos, entrou no palco ao som de palmas contínuas. Com andar calmo, exibiu seu terno alinhado, sapato bicolor e um olhar admirado diante da plateia. Sorriu. Repousou o chapéu sobre uma pequena bancada ao centro e prosseguiu o restante da noite com as pernas cruzadas e mãos levamente gesticulantes. Silêncio total. Olhos e ouvidos atentos. A palavra é dele. Voz doce, firme e precisa.
Com mais de 50 anos de carreira, fez um passeio por seus trabalhos e relembrou a primeira matéria que escreveu nas modernas máquinas de escrever da redação do NY Times na década de 30. Aos 19 anos, o então entusiasmado “faz tudo” do jornal não imaginava que sua curiosidade e percepção lhe trariam tantas glórias. Seu primeiro personagem: um letrista do jornal que tinha por função escrever as notas que passavam no letreiro luminoso ao lado externo do prédio. Para Gay Talese, o simples trabalho era a oportunidade perfeita. Mergulhou por algumas horas na vida do trabalhador, perguntou as curiosidades, fatos marcantes e começou assim a traçar o perfil do entrevistado. Pediu emprestado uma máquina, sentou e redigiu. Tal folha caiu nas mãos do editor que publicou a matéria. Ainda sem assinatura. Mas estava impressa.
Das batidas fortes e barulhentas das máquinas que mais pareciam caixas registradoras, aos teclados delicados de um computador, o estilo de Gay Talese não se perdeu, pelo contrário, ganhou mais características e força. Ganhou o respeito e admiração. “Nos meus trabalhos, sempre começo algo com a descrição de algum lugar, de alguma pessoa. Procuro transformar palavras em imagem. Como se o leitor estivesse vivendo o mesmo fato a medida que eu os vejo”, declara.
Em diversos pontos da palestra relembrou a essencia de um jornalista: revelar a verdade. “O bom jornalismo é feito de verdade tanto quanto se pode chegar perto dela”. Outra base importante para conseguir uma boa história está na educação, na cortesia do profissional, na capacidade dele em conquistar a confiança do entrevistado para que possa ir fundo, cercar os detalhes e redigir com entusiasmo.
Gay Talese tem um olhar diferente. Uma curiosidade, como gosta de dizer. Ao cobrir uma luta de boxe, preferiu desvendar a vida do juiz. Ao reportar uma final de jogo de baisebol, optou contar sobre os trabalhadores que cuidadam da grama. Até os pedintes de rua e uma enorme fila para comprar calças jeans não escapam ao seu olhar. O velho bloquinho e uma caneta são seus companheiros.
O jornalista ainda fez questão de dizer que sua visita ao Brasil, a convite da FLIP (Festa Literária de Paraty/RJ), que aconteceu na última semana, foi supreendente. Ficou emocionado ao presenciar uma enorme quantidade de pessoas em uma feira exclusiva de obras impressas. “Eventos como esse, com essa proporção, não acontecem em Nova York e nem em Washigton. Em nenhum outro lugar”. Cerca de duas horas depois, todos continuam atentos. Parecem não piscar. Ficariam por mais quantas horas fossem necessárias. É preciso encerrar. Mais aplausos.